As pessoas passam apressadas enquanto termino meu expresso. Aproveito cada gota como se me agarrasse aos últimos momentos do prazer. Os funcionários da cafeteria ensaiam um ritmo frenético e o esguicho do café fresco enriquece o ambiente com seu cheiro agradável causando uma certa nostalgia. Casais enamorados confabulam seus planos, absortos um no outro, não notam o que se passa ao redor.
Estou aqui sozinha no centro tumultuado da antiga capital. Acabei de ver Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Burle Marx no museu. A arte também ecoa nas ruas circundantes e o som da buzina dos carros e das vozes a minha volta me fazem acordar dos meus devaneios.
Lembro que daqui a poucos instantes o celular tocará e os afazeres conturbados me levarão de volta à rotina de um futuro ainda desconhecido. Será que continuarei no labor diário na distante cidadela? Não sei, mas estranhamente não estou preocupada. Acostumei a inconstância da minha vida e quase nada me desconcerta. Deixo o coração acelerar somente por emoções palpáveis como o líquido negro que toca meus lábios com suavidade. Ah, me reporto novamente ao café, não sei explicar o efeito que provoca em mim!
Doce, amargo, quente, frio, delicado e forte. Não vejo minha vida sem ele. Necessito de café! Agora sinto meu vício cada vez mais perto e me entrego. Agradeço a todo esse turbilhão de sabor que inspira minha alma. Amanhã, outro dia, uma única certeza: uma nova xícara de café...
Deste jeito vou caminhar para este vício. Transformar o simples café no café das palavras foi sensacional e imagético. Imaginei o prazer que ele lhe causa. Abraço.
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