domingo, 28 de agosto de 2011

BEIJO

Lábios que se procuram
Numa necessidade crua
De entrar no outro
Desvendar  segredos
Molhados, doces e ásperos
A barba que roça na face
A eternidade da entrega
Tudo por causa de um
Único corajoso beijo
Um mistério oculto
No encontro de bocas
Numa insana e frenética
Sucessão de lábios colados
Tentando manter-se unidos
Os olhos brilhantes
Ora abertos
Para ter certeza do outro
Ora fechados
No êxtase do instante
Línguas invasivas
Dentro apenas dentro
Apenas beijo...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

MEDO


Hoje estou com medo
Do que não posso decidir
Do que não posso assumir
Ideias controversas ensaiam
Seus passos inseguros na minha razão
Não posso apelar por uma decisão
O medo do que não posso controlar
Toma forma de um suplício
Essa noite o sono
Foi por ele impedido
Só espero que esse medo
Seja apenas indício
Desse sentimento nunca outrora sentido
E que uma atitude que tanto anseio
Acabe de uma vez
Com tanto medo...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

DOCE TRADIÇÃO


Na minha casa desde menina

Para ganhar doce na boquinha,

Meu avô sorridente pedia:

- Cadê o versinho?

Eu muito levada respondia:

“Sou pequenina

Não sei fazer nada

Vou pra cozinha

Comer goiabada!”

Assim meu doce saboreava

Essa tradição me encantava...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VAZIO

Hoje senti um vazio
Uma falta
Uma necessidade
A sensação de estar incompleta
Nesse dia cheio de trabalho
Sorri, corri, encerrei o expediente
Tô em casa com esse vazio
O que aconteceu?
Acho que é  saudade
Não ouvi sua voz
Não vi seu rosto
Essa distância imposta
Me encolhe a alma
Saudade doída
É saudade que não se pode matar
Este vazio por uns dias irá me acompanhar...

domingo, 14 de agosto de 2011

SAUDADE

Tive um pai que partiu, no auge dos seus sessenta e seis anos, com seus defeitos e qualidades.
Aprendi muito com ele: sandálias hawaianas nos pés, camiseta regata, bermuda de taquetel, e uma altivez que calava os fracos.
Nunca vi alterar sua voz, discutia num tom firme e baixo. Expressava sua opinião e, teimoso, mantinha sua versão dos fatos, ninguém conseguia convencê-lo do contrário. Eu rebelde, sempre tinha que contrariá-lo, minhas ideias eram outras, teimosa como ele, insistia em mantê-las, ele me respeitava e quando a discussão se exaltava, apenas num momento de rompante me dizia, "Burralda", a confusão estava armada, ele havia debochado da minha inteligência, era uma graça nossos desentendimentos.
Acordava antes de todos na casa, enquanto a água fervia, pegava o carro ia à padaria, de volta armado com pão quentinho, entrava em nosso quarto e colocava o calor do pão no nosso rosto, eu acordava sorrindo, minha irmã mais dorminhoca, sempre levava uma boa palmada no bumbum. Assim, começavam nossos dias, com cheirinho de pão fresquinho e palmadas.
Na hora do almoço, todos sentados à mesa, assim que acabávamos, na cama deles reunidos, eu, minha irmã, papai e mamãe, uma hora de papo, todo dia tinha assunto diferente.
Quando a noite chegava, nós cansadas do trabalho, mamãe com seu humor sempre alterado, ele aparecia sempre sorrindo, ia entrando chamando mamãe de "Dona Encrenca", a gente de "Minhas Chiquinhas", batia em nosso bumbum, se uma de nós estava sentada no seu lugar no sofá, levantávamos, aquele cantinho era somente dele, suas únicas exigências na vida: o cantinho no sofá, angu de segunda a sexta e, almoço servido exatamente ao meio dia.
Perdê-lo foi uma dor terrível, a maior por mim já sofrida, me senti tão culpada por não ter conseguido salvá-lo, senti tanto medo da minha vida sem ele, tentei cuidar da minha mãe e da minha irmã, achei que fosse mais forte e ia conseguir fazê-lo, mas não pude, apenas adoeci na minha angústia e meu desespero.
Demorei muitos anos, muitos mesmos, para conseguir recomeçar minha vida sem ele, sua partida me destruiu por dentro. Até hoje, minhas lágrimas ainda não correm, talvez um dia possa voltar a chorar.

Uma coisa não posso negar, em alguns momentos senti raiva dele por ter me deixado, me senti injustiçada, demorei a perceber que não era minha culpa, nem dele. Assim pude nos perdoar.
          
Hoje ouso dizer que meu amor por ele é tão grande, que esqueci os momentos ruins, guardei apenas os mais belos para recordar, com uma saudade ainda doída.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

COMO VIVER?


Hoje me sinto triste
Não pelas minhas escolhas
Mas pela falta de compreensão
Um dia sou perfeita
Noutro sirvo mais não
Pior que viver sozinha
É viver com o medo eterno
De não ser boa o suficiente
E assim ser anulada
Abandonada
Deixada para trás
Como móvel velho
Que agora não serve mais...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A COISA CERTA E DIFÍCIL


Hoje decidi fazer a coisa certa
Porém foi tão difícil fazê-la
Na minha vida nada é como deveria
Talvez seja carma
Castigo de viver sozinha
Sentindo o peso do mundo
Encarando o escuro do caminho
Abrir mão de algo tão doce
Foi pra mim grande desespero
A coisa certa
Porém difícil demais fazê-la
Uma calma quase doentia
Anuncia um período triste
Meus olhos cansados
Minha boca seca
Minha alma vazia
Fiz a coisa certa
Essa é a minha única
E dolorosa certeza...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

DESEJO EM REPOUSO

Meu corpo descansa na cama
Repouso provocado
Contra a minha vontade,
Mas nesses dias sem voz
Minha alma segue inquieta
Nas minhas entranhas
Um desejo imenso,
Será apenas falta do seu corpo
Fazendo morada dentro do meu?
Ou será um sentimento
Que o tempo não perdeu?
Reteve escondido
E nesse momento
Vem mostrar-se em segredo
Para mim que não imaginava,
Ser capaz de tamanha façanha
Te guardar bem escondido
Onde nem eu mesma sabia,
Será tudo doce ilusão?
Mas se for não importa
Pelos menos será lembrança,
Que nem mesmo o tempo
Será capaz de apagar...