quarta-feira, 9 de abril de 2014

MUDANÇA


Muitas vezes nos deparamos com situações que nos afligem dia após outro e, por medo, ficamos ali inertes, suportando o sofrimento da insatisfação. Comigo aconteceu no trabalho. Assumi, em 2008,  a função de Coordenadora Pedagógica dessa grande escola, na qual eu já trabalhava como professora desde 1997.

Foi um desafio e tanto, naquela época, a sala da Coordenação não tinha sequer computador, não havia nenhum documento em arquivo, não se falava em projeto, não se usava as novas tecnologias.

Comecei do zero. Cada  arquivo, seja modelo de ata, relatório, convite, certificado, aviso, lista de presença, folder, tudo foi idealizado e digitado por mim. 

Os embates para mudança de paradigmas, esses foram sim, a tarefa mais desgastante. Convencer os colegas da necessidade de se trabalhar com projetos e de inserir nas suas aulas as ferramentas disponibilizadas pelo computador e o datashow instalados numa sala improvisada como auditório, montada em parceria com a direção. Montar material pedagógico para cada disciplina, preparar os CDs  com o auxílio do antigo Nero, sendo eu da área de Matemática, tive que pesquisar muito até compilar todo o material para ser entregue a cada professor da unidade. Resultado, o auditório hoje, funciona a pleno vapor, sendo necessário agendá-lo até com um mês de antecedência.

Antes do Estado do Rio de Janeiro, lançar o Currículo Mínimo, eu implantei, em 2009, o projeto "Ementas CEFT", quando percebi que cada professor lecionava o conteúdo que lhe achava conveniente, assim se um aluno trocasse de turma, no mesmo ano de escolaridade, se deparava com um assunto completamente diferente, e acabava extremamente prejudicado.

Organizei, com auxílio de uma colega, toda a progressão parcial dos alunos do colégio. Hoje tudo fica registrado, assim que a dependência é lançada em ata, no período subsequente, o nome do aluno conta em lista divulgada, na qual fica registrado o nome do professor responsável e o período em que a dependência deverá ser realizada. Assim cumprida a mesma, o nome do aluno é retirado da lista e sua documentação encaminhada à Secretaria para arquivamento na pasta individual. Criamos um arquivo morto, com a relação dos alunos que já se formaram, mas ainda devem alguma dependência. Assim, quando eles nos procuram, basta localizá-los na lista e pronto.

Foram muitas reuniões, onde eu cheia de ideias e ideais, colocava minha opinião, e acabava alvo de todo tipo de grosseria e até escárnio, por parte daqueles que não acreditavam que era possível fazer uma escola de qualidade, mesmo esta sendo pública.

Os anos se passaram, eu que antes era sozinha para tudo, fui recebendo gradativamente, com muita alegria, os colegas para formar a tão sonhada equipe pedagógica, que hoje é realidade. Há um ano e meio atrás passei a receber a gratificação, mais que merecida, pela função exercida. 

O desgaste físico e emocional principalmente, me fizeram aquiescer. Eu já não me reconhecia.

Acabei alterando o meu tom de voz. Nesses 25 anos de efetivo exercício em salas de aulas, desde o tempo da turma multisseriada da escolinha de zona rural onde comecei, passando pelos cursinhos pré vestibulares, ensino médio, pelas salas da Federal Fluminense quando atuei como professora substituta, mesmo lá na linha de frente, poucas vezes levantei meu tom de voz.

Percebi que em certas ocasiões, chegava ao extremo de proferir palavrões, o que na minha criação sempre foi considerado algo escandaloso e fora de propósito. Eu uma pessoa tão aberta ao diálogo, sempre defensora do livre pensamento, que adoro discussões no âmbito das ideias, me peguei sendo truculenta com os meus pares.

Notei que pouco a pouco estava me transformando em algo que não me agradava. Não culpo a ninguém por isso. Nem mesmo a mim. Tudo na vida tem seu tempo. O meu na Coordenação Pedagógica acabou.

Guardo boas lembranças dos lindos projetos executados, das amizades que fiz e, espero que algumas permaneçam, das conversas acaloradas sobre educação onde o foco era sempre a melhoria do processo, para a construção de uma escola de excelência.

Minha consciência jaz tranquila. Nunca fugi do trabalho árduo. Quando ociosa, nos meus plantões, apenas abria meus livros, companheiros de uma vida, que ampliam minha visão de mundo, o que na minha humilde opinião, é essencial a qualquer profissional, principalmente aos de educação.

Agradeço a oportunidade de ter desempenhado essa função, ao diretor da unidade, que confiou em minha competência e me fez o convite lá atrás em 2008, onde eu muito receosa, tive a coragem de aceitá-lo.

Com essa mesma coragem me despeço. 


Sou alguém que não acredita em erros e acertos, mas que entende que as coisas não deram errado, apenas não aconteceram do jeito que você imaginava, e que o importante é aprender sempre. Sou também frágil, apesar de parecer sempre forte aos olhos daqueles que não me conhecem de fato. Ainda acredito, que em cada pessoa que vive neste planeta exista mais bem que mal. Sou otimista por natureza. Digo sempre que minha maior qualidade é também o meu grande defeito: a SINCERIDADE. O resto de mim, fica para aqueles que tenham vontade de olhar um pouco abaixo da superfície.......



Rosivar Marra Leite - 09 de abril de 2014