domingo, 27 de fevereiro de 2011

VERDADE INCONTESTÁVEL

         
          Globalização de ideias: fato. Não importa se numa metrópole ou cidadela, hoje todos nós temos acesso a todas as informações e, na verdade, somos bombardeados por elas. Observando os filmes estrangeiros, a forma como nos vestimos é a mesma, apenas adequada ao clima de cada lugar, e já assistimos os mesmos filmes, afinal os cinemas fazem lançamento simultâneo, onde o cinema não chega, a Internet disponibiliza. As músicas que escutamos, apenas respeitam  a cultura local, mas ouvimos todos os ritmos do mundo, o que me agrada muito.
          Todos estamos conectados pela Internet, somos agora virtuais, muitas vezes esquecemos até do que é real. Temos cidades on line, administramos as mesmas e, muitas vezes temos dificuldade de gerir nossas próprias vidas.
          O mundo do pensamento coletivo: quando viajamos para o exterior nem nos sentimos deslocados, afinal "mais do mesmo". Vivemos como deve ser, da forma esteriotipada, engendrada ou idealizada por alguém, que talvez tenha lançado moda sem se dar conta disso.
          Pessoas de cidade pequena não existem mais, o que existe são pessoas que pensam  pequeno, em New York ou em Água Preta, tanto faz.  Pensar pequeno atualmente, significa mais do que  não pensar, afinal tudo já está pronto, é não respeitar que os outros insistam em pensar e, consequentemente tenham ideias próprias, que na maioria das vezes são contrárias as coletivas.
          O mundo fica meio sem graça, quando aceitamos essa verdade incontestável, então, nos cabe uma profunda reflexão: como ser um "ser" individual num mundo tão massificado?
          No meu caso, ando nadando contra a correnteza faz tempo. Não deixo de ter ideias, meu cérebro fervilha e aqui neste blog, apenas registro minha existência única neste mundo coletivo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

INDIGENTE


          Um homem qualquer caminha pela estrada, com os pés esfolados, olhar perdido, sem destino. Alguém avista aquela figura, fica penalizado, resolve ampará-lo. Para o carro, coloca o desconhecido no banco, ele não reage, então, decide levá-lo ao hospital, está com os pés em carne viva, o que será que aconteceu àquela pobre alma? Não sabe responder, apenas acha que está fazendo o correto.
          Deixa o homem na companhia de médicos e enfermeiros, com a consciência tranquila se despede, mas o homem mantém o olhar distante, nem mesmo percebe sua saída, não esperava agradecimento mesmo, percebera desde o primeiro momento que ele não estava lúcido.
          Os médicos o examinam, nada grave, os pés estão em carne viva, parece ter andado muitos quilômetros descalço, os enfermeiros fazem a higiene corporal, percebe-se uma tatuagem, os dentes parecem bem cuidados, as primeiras perguntas demonstram sua desorientação, não sabe de onde é, nem o próprio nome.
          Talvez, seja um andarilho, um bandido, um indigente qualquer, mas como saber? É possível também que seja ente querido de alguém, que esteja desaparecido, podem estar procurando por ele em algum lugar, sofrendo, em desespero com seu desaparecimento. Provavelmente foi atendido em outros lugares e, logo em seguida liberado com algum dinheiro sem que ninguém tivesse interesse pelo caso.
          Três dias passam, ele está quieto, alimenta-se, dorme, recupera-se das feridas nos pés. De repente algo acontece, sua atitude muda, descontrola-se, fica violento, então é sedado. A assistência social e psicológica  é acionada, detectam um surto, acreditam ser esquizofrenia. Uma fisioterapeuta, um enfermeiro e alguém da área burocrática, decidem ajudar. Pedem que aguardem antes de trasferi-lo ou liberá-lo.
          Conseguem descobrir seu nome, sua cidade natal, fazem contato e aguardam a localização de familiares. O sobrenome no Google parece ser de uma família importante do Sul do país. A expectativa é grande, estão esperançosos em devolvê-lo a sua família, para que receba o tratamento conveniente e, esteja protegido dos perigos da estrada.
          A chefia do hospital diz que não pode continuar ocupando um leito com ele, pedem mais uma noite, caso não consigam identificá-lo, será transferido para uma casa de repouso, ficará aguardando lá, até que seja localizada a família.
          Uma ideia surge: vamos fotografá-lo e pedir que assine seu nome, ele já consegue fazê-lo, assim enviamos os dados para facilitar o trabalho das autoridades de sua cidade natal. Chegam à porta do hospital, animados, de repente, a notícia estarrecedora: "O paciente foi embora!".
          O desfecho não foi o esperado, primeiro indignação com o desrespeito pela vida humana, depois um abatimento na alma com tamanha desumanidade e, por último já em suas casas os olhos enchem-se de lágrimas, afinal, o que pode ter acontecido ao pobre homem. Terá retomado sua caminhada perigosa pelas estradas com seu olhar perdido? Será que num acesso de loucura tenha se jogado de uma ponte acabando com a própria vida? Ou quem sabe esteja sofrendo algum abuso ou violência? Será difícil dormir por algumas noites com esses pensamentos em suas cabeças...

SEM TÍTULO


Maldade maior não há,
Nesse mundo de progresso,
Do que ter sentimento,
A alma chora com tamanha dor que sente...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

FEIRA DAS VAIDADES


          Na cidadela um Sol torturante oprime os olhos que ardem com a insensatez amplamente praticada. Personagens ricos em hostilidade e hipocrisia desfilam seu amargor pelos quatros cantos do ambiente, insuflando a vulgaridade privilegiada dos falsos moralismos, verdades guardadas que escapam das correntes centenárias e mostram-se para deleite dos poucos opositores da farsa.

          Um covil  de lobos a espreita, esperando um deslize para o ataque brutal, punindo todos aqueles que ousam expor ideias contrárias as normas milenares, impostas pelos  sobrenomes outrora ilustres. A decadência dos cofres reduzidos a pequenas ninharias, consequência do neoliberalismo do século XX, ocasiona um certo desconforto aos eleitos, já que agora são forçados a dividir os espaços com o público sem nome, mas que são os detentores das moedas de ouro, muitas vezes utilizadas para comprar a simpatia dos antigos donos da cidade. 

          Nas festas de verão, o desfile de trajes sofisticados contrastam com o escasso traquejo social, já que o cuidado com a aparência não oculta a pouca cultura das imponentes figuras da elite decadente. Na madrugada tardia, o aroma da erva proibida paira no ar e a brisa morna deixa escapar os mais obscuros desejos. Quando os primeiros raios de Sol aparecem, as faces despedaçadas recolhem-se satisfeitas.

          Quando chega o falso inverno, com muito Sol e temperaturas acima da média, incrível como até as estações escondem sua real identidade, os habitantes reclamam dos poucos dias de frio, onde uma chuva miúda tenta lavar toda a poeira de mentiras, mas uma real impossibilidade não permite. O frio e a noite escura combinam complacentes, esconder o vazio imenso que inunda a cidade.
          A mesquinhez e a  mentira, fiéis aliadas, alimentam a feira das vaidades, onde desfilam os  personagens suas  máscaras polidas pelo tempo, que nesse lugar esquecido teima em não passar, parceiro gentil da  estática, mantendo tudo como deveria estar, mudam-se os rostos, mas a essência permanece a mesma.
      
        

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

REFLEXÃO PEDAGÓGICA

Recebi a seguinte mensagem:

"os alunos teriam que passar pela dona mariana que hoje e falecida dona zigue  que e mae do ze antonio pardal que faz arreparo em maquina de lavar que so olhava os alunos com uma regua na mao de metro e mandava nas pernas dos alunos que fasia bagunça hoje voces professores sao 1.000000; nao estou disfasendo delas so que na epoca essa era a lei tinha que obedecer, eu ja vi alunos de cara pra parede........."

Fico feliz com a nova postura adotada por nós professores, mas não posso deixar de ficar triste com os erros do texto acima.
Fizemos uma mudança necessária, no que se refere a dimensão afetiva do ato de ensinar, mas como um aluno pode concluir o Ensino Médio, levando consigo tantos erros na escrita?
Isso nos faz pensar no que estamos realmente ensinando a nossos alunos.
Grande tarefa a do educador do séc. XXI: aliar as questões éticas, afetivas e tecnológicas a um ensino de qualidade explícita.
Não podemos nos perder novamente, o momento é esse!

Rosivar Marra Leite
Professora Licenciada em Matemática e Especialista em Informática Educativa
Coordenadora Pedagógica

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O MORRO DA MANGUEIRA


Divanir era o irmão caçula do Seu Zizito que morava na Candiba. Era completamente diferente do irmão. Adorava uma piada, levado já era desde pequeno, todos o consideravam um doidivanas.

Em época de Carnaval, o Valão da Onça todo aguardava para ver o bloco do Divanir. Homens vestidos de mulher, com os rostos maquiados, bêbados de cair, tocando seus pandeiros, bumbos e cuícas. Naquele chão de terra, a poeira subia altiva com a passagem dos componentes que animavam a multidão que acompanhava tudo enfeitiçada. As crianças perguntavam:

- Mamãe, aquilo é papai vestido de mulher? É não, é?

A mãe rindo respondia:

- Filho é Carnaval, seu pai está fantasiado!

- Ele está torto? Parece que vai cair! Mamãe papai está “de queimado”!

- Querido, a gente diz, “Papai está de fogo!”

E assim a turma se divertia. As crianças estranhavam e aos poucos imitavam os passistas enlouquecidos, que em coro cantavam as marchinhas do Seu Eugênio, pai do Divanir e do Seu Zizito:

“O preço da canjiquinha
Parece uma vergonha
Até na mesa do rico
Faz-se mesmo cerimônia,
O preço do capadão
Já chegou a quarentão
Ninguém vai poder comprar.
O remédio que nós temos
É comer sem temperar!”

 

Ou então, outra cantavam:


“Eu fui na venda do Marra
Com uma grande intensão
Cheguei e pedi fiado
Ele me disse que não
- Amigo, tu me desculpe
Dói a sua consciência
Se eu pegar a vender fiado
Não posso pagar licença!
Voltar de novo na venda do Marra pra quê
Repetir o fiado ele não vai querer
Pois ele torceu a cara
E depois saiu zangado!”


Os Carnavais do Valão da Onça eram mesmo muito animados. A cachaça branquinha ou amargosa era por todos disputada.

Divanir gostava muito também de visitar o Morro da Mangueira, o local onde as putas rameiras desmamavam os rapazolas valonenses. Era por elas muito querido, quando avistava que ele subia a ladeira, cá de cima, Tutu, a mais antiga das vadias, gritava ao dono do boteco da esquina:

- Pedro Briti, é Tutu que tá falano. Tutu, Pedro Briti, aqui do Morro da Mangueira! Olha quem tá subino! É Divanir!

E Divanir subia todo arrumado com perfume de alfazema e flor de gardênia na lapela. Nesse dia chegou mais cedo, Tutu o recebeu na sala com festa, gritou para Angelina:

- Anda Angelina, Divanir já chegou! Acaba logo esse banho, que eu preciso da gamela pra bater a broa!

Nunca mais ele comeu da famosa broa de Tutu, o gosto estava explicado, mas como era muito debochado, ele mesmo servia a broa para os desavisados. O baile começava às sete horas em ponto. Lá chegavam os homens ansiosos, Getúlio já abusando da bebida, colocava o instrumento para fora e batia com ele na mesa das broas dizendo:

- Olhem o trado! Tá chegando o trado!

A mulherada às risadas, gritava:

- Guarda o grandão, Getúlio! Assim você vai assustar as donzelas!

Assim era a noite inteira: broa de gamela, música para arrastar o pé na terra batida e nos quartos os gemidos sem pudor do mais profundo e vendido amor. Tudo ia noite adentro, até que às vezes Dona Loca, com seu pau-de-macarrão estragava a festa, atrás do marido Julião, aos berros espantava os mais santos rapazes da cidadela.

Quando tudo corria bem, era o galo que cantava brando, para não incomodar os amantes, anunciando o fim da função. Quando o dia clareava, o azul no céu despontava, a vida lá fora recomeçava, até que novamente a noite caísse e nos quadris frágeis e gentis, o trabalhador do dia encontrasse sua recompensa e novamente seu lugar feliz.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

RAPIDINHAS DA CIDADELA

Numa cidade perdida nos confins do Brasil:

Situação 1:
- Fala meu camarada! Tem bagulho aí?
- Não, amigo. Parei, tô limpo faz tempo!
- Rapaz, como eu fico, me arranja um, afinal sou pai de família!

Situação 2:
- Amiga, você sabe a nova moda na piscina?
- Não. Tem muito tempo que não vou ao clube. Conta, quero ficar fashion!
- Você não deve ir ao clube sem três coisinhas básicas: salto alto, bolsa de couro e uma toalha bem novinha.
- Como assim? Explique!
- O salto alto e a bolsa de couro é para você chegar abafando.
- Mas na piscina? A toalha eu concordo, item necessário!
- Calma linda, a toalha é pra você desfilar enrolada como se estivesse saindo do banheiro da sua casa!
- Menina, tô por fora mesmo! Fala sério!

Situação 3:
- Amiga, tive uma ideia inédita!
- Fala, tô louca pra saber!
- Vou escrever um livro e lançá-lo por conta própria. Faço uma reuniãozinha num auditório de colégio. Que acha?
- A ideia é muito boa, mas não teve uma moça que lançou exatamente um livro assim no ano passado.
- Hello! Ano passado passou, minha filha!  Você tá querendo roubar minha ideia! Que invejosa você!

Situação 4:
- Tô tão feliz!
- Por que, me conta a razão!
- Consegui uma otária pra fazer todo o trabalho pra mim!
- Mentira?
- A babaca faz tudo e eu fico com os créditos! Quer melhor motivo pra comemorar?
- Delícia! Vamos pedir mais uma cerveja!

Situação 5:
- Amigo, venha cá!
- Fala, qual é?
- Tô sabendo que você pegou a minha mulher!
- Pô cara, que isso!
- Não adianta mentir!
- Tá certo, peguei e daí vai encarar?
- Só quero saber umas coisinhas: você beijou ela?
- Beijei!
- Abraçou?
- Abracei!
- Tirou sarro?
- Sarrei!
- Você transou com ela?
- Não, transar não transei!
- Valeu amigo! Tá de boa! Obrigado, tava pensando no pior!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

QUEM SOU EU

                   Um dia decidi esconder eu mesma de todos e de mim. Achava mais prudente não mostrar a pessoa ridícula que sou. Talvez estivesse certa nisso, mas mudei de ideia e deixei-me ver. O grande equívoco é me viram, mas nada enxergaram.
          Eu sou desse jeito: acredito na beleza. Vejo o mundo de cores vibrantes, me emociono com a chuva caindo, o vento ventando e as pessoas sorrindo sorrisos verdadeiros. Gosto de conversa solta, de contar histórias para crianças, de dançar mesmo sem ritmo e cantar com meus agudos estridentes.
          Quando trabalho faço tudo tão perfeitinho, penso em cada detalhe, preparo com dedicação e fico feliz se alcanço  o meu  objetivo. Não desejo poder, nem glória, apenas fazer o que me propus.
          Amizade é importante, amor é indispensável, ética é primordial. Não vejo outra forma de viver, assim vou nadando contra a correnteza, com minha cara de babaca. Cada vez que abro a boca, caramba, incompreensão!
          Não posso voltar atrás, esconder-me novamente não vai dar. Não serei eremita de mim mesma. Falarei com aqueles que me dirigirem a palavra, e direi o que penso, não posso voltar.
          Dia desses me disseram "Amiga, quando você conhecer um cara, não mostre que você é inteligente, que é escritora, isso afasta os homens, eles se sentem ameaçados", mas como posso me ocultar?
          Não vou desistir de mim. Prefiro a solidão a não poder dizer o que penso. Então decidi: no trabalho, chega de ser saco de pancada, vou me retirar, mas não vou me vender. Prefiro poucos amigos à casa cheia de gente que não tem nada a ver comigo. Se um homem me quiser, vai ter que entender que não posso fingir ser o que não sou, tenho trinta e muitos num corpo bonito, mas sou uma mulher inteira, com opiniões, não abro mão delas.
          Cansei de explicações tortas, imagens distorcidas da realidade, de gente que nada tem a acrescentar.
          De agora em diante, aviso: estou a favor do tempo, enquanto meus pulmões respirarem, sem nada a temer, sou  artesã de mim mesma.

       

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

INVEJA


Inveja, mesquinhez, desdém
Pobre alma descontente
Procura no outro o que não detém
Faz questão de tão pouco
E ridiculariza o que tanto deseja,
Seja firme
Procure seu caminho
Lute pelo que acredita
Mude de partido,
Conte apenas consigo
Deixe os outros em paz
Porque apenas o mal lhe compraz,
Mude de conduta
Peça ajuda
Mas não seja tão pequeno
Neste mundo você não é tão ingênuo,
Perceba a sua pequenez
Pare de invejar
E seja mais feliz,
Assim trilhando esse caminho
Algo me diz
Que sua vida está por um triz,
Não desperdice seu tempo
Querendo o que eu construí,
Trabalhando, lutando, estudando
Você pode fazer igual,
Basta mudar de atitude
Construa o que é seu
Deixe aquilo que é meu...


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

RETORNO


De volta ao meu canto
Sem muito encanto
Assim retornei,
Trabalho desde menina
Já cansada estou da rotina
Mesmo assim recomecei,
Animada não estou
Mas cumprirei meu dever
Esta é a minha sina,
O que mais amo nesta vida
É escrever,
Quem sabe um dia
Das minhas letras hei de viver...