quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ESPERA


Há muito tempo espero você
Espero o olhar dos seus olhos
O suave toque de suas mãos
A sua fala dizendo o quanto me adora.

Há muito tempo espero você
Espero você perceber
Que sou a pessoa certa
Que o mundo fica mais  bonito
Quando estamos juntos.

Há muito tempo espero
Que você perceba que as manhãs de Sol
Podem ser mais bonitas
Se estivermos acordando juntos
Depois de cada toque
De cada segredo descortinado
De cada instante de prazer.

Há muito tempo espero
Ter você em minha vida
Com todo turbilhão de sentimentos
Com todo perigo que a entrega produz
Com as incertezas que às vezes nos perturbam.

Agora estaremos juntos,
Nos permitindo,
O desejo mais íntimo,
A confidência mais secreta,
Sem barreiras,
Sem temores,
Apenas abertos a esse encontro
Há tanto adiado
Há muito tempo esperado...




sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DIA DO PROFESSOR


          Hoje, comemora-se o Dia do Professor, estamos em casa, curtindo o feriado, depois de jantares de confraternização regados com conversas descontraídas. Somos remanescentes de uma profissão considerada pela sociedade como de quinta categoria, ocupada por profissionais de quinta e pessoas de quinta. Vejo os colegas outrora apaixonados, hoje nas aulas vagas debruçados nas suas "Apostilas de Concursos", buscando salários que permitam uma melhor condição de vida para si e suas famílias.
          Ontem pela primeira vez, senti vontade de segui-los. Não apenas pela remuneração, mas principalmente porque não sou uma pessoa de quinta! Não aceito que alguém que começou na mais nobre tarefa de ensinar "a ler e a escrever", paralelamente fez faculdade federal, migrou para o ensino médio, depois fez especialização paga com recursos próprios também em instituição federal, ministrou aulas em faculdade, pagou também curso de inglês, lê sistematicamente, prepara aulas durante horas utilizando as novas tecnologias, tem sempre projetos próprios trabalhados em suas turmas de atuação, seja uma profissional ruim.
          Ora, não me considero uma profissional de quinta, não aceito ser tratada dessa forma, não retifico para a sociedade que minha profissão seja menor, muito menos respeito os tecnocratas que assumem as Secretarias de Educação, e determinam sem conhecimento de causa que nós professores estamos ganhando muito bem pelo número de horas trabalhadas. Somente quem não tem a menor ideia da profissão seria capaz de tão descabida afirmação.
          Não somos valorizados, na verdade somos rebaixados. Pior que tudo isso acaba com a nossa auto-estima, nossos chefes também professores estão desanimados, nossos colegas já olham com descaso quando mostramos que ainda preparamos aulas em slides, promovemos projetos, ainda somos apaixonados pelo que fazemos. Todos estamos vencidos!
          A mim só sobrou fazer como os colegas que preferem largar a profissão do que simplesmente se deixar corromper. Na vida o que nos move é a paixão, e até ontem fui apaixonada pela minha profissão, agora afirmo que tentarei encontrar outro caminho, onde eu possa colocar toda essa energia criativa que faz parte de mim.
          Um grande abraço a todos os colegas de profissão. Lutadores de outrora, talvez sentindo-se vencidos agora, mas que para sempre, mesmo longe da profissão, eternos mestres. Aquele que um dia contribuiu para que  uma criança frágil e indefesa, depois de quase um ano de trabalho,  escrevesse  letras tão arredondadas, com tanto capricho, jamais deixará de ser professor. Depois ouvir o texto proferido naquela melódica fala infantil, a primeira vez, a gente nunca esquece, por isso somos mestres, porque não há tecnocrata no mundo que possa nos tirar isso.
          Parabéns professores! A nós mais que qualquer elogio ou reconhecimento externo, cabe hoje nossas lembranças.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

CIVILIDADE


          Estranho falar sobre civilidade em pleno século XXI, mas percebo que cada vez menos se dá valor a isso atualmente. Estava conversando sobre essa questão, e percebi que algumas pessoas também se aborrecem com a falta de educação encontrada nas relações cotidianas.
          O despertador do celular toca, levantamos de nossas camas já atribulados com a quantidade de coisas que temos que fazer durante o dia, quando dá tempo após nos arrumarmos, tomamos um café rápido, descemos pelo elevador e assumimos o volante do carro sempre apressados.  Ao sair da garagem, nos deparamos com os carros e pedestres que não dão uma folga sequer para que possamos adentrar na pista e seguir para o trabalho. Estressante realmente, então, para descontrair a impaciência com o próximo, ligo o som do carro e começo a cantar como se estivesse indo dançar a noite inteira. Alguns podem até me chamar de "a louca desvairada que liga o som e sai cantando em seu carro", mas o que ocorre é que apesar de toda correria, chego no trabalho sorrindo e dando "Bom dia!".
          A resposta para o cumprimento é rara, na maioria das vezes, o que recebo é a indiferença ou aquele olhar raivoso de quem já acordou de mal com a vida. Ora, a vida anda mesmo complicada para todo mundo, mas não responder um "Bom dia!" pela manhã é para mim grosseria pura. Minha irmã reclamando da mesma coisa me confidenciou: "Às vezes tenho vontade de desejar um péssimo dia, só para ver se não teria resposta". Respondi que a resposta seria imediata, com certeza, palavras rudes seriam proferidas e alguns partiriam até para agressão física, uma válvula de escape para nossos fracassos diários. Triste realidade, onde apenas o que é negativo chama a atenção das pessoas.
          Também tem a forma como tratamos os garçons, em geral nem os notamos, e quando algo não sai a nosso gosto, chamamos o gerente, sem pensar que podemos estar colocando em risco o emprego daquela pessoa. Eu fico surpresa com a reação dos garçons quando os chamo de forma delicada e, ao tornar-me frequentadora assídua do estabelecimento, os outros fregueses se espantam quando me dirijo a eles, dessa forma: "querido, será que é possível você me trazer um pouco mais de molho?". Não entendo por que estranham tanto, apenas estou sendo gentil com pessoas com as quais convivo regularmente.
          Nas calçadas, com o fluxo grande, é quase impossível não esbarrarmos uns nos outros, o que ocorre, nem um pedido de desculpas, o mínimo que fazemos é uma cara bem feia, quando não esbravejamos, grosserias trocadas e pronto, estamos satisfeitos. Dia desses, um homem ficou assustado quando pedi "Desculpas" por conta de um esbarrão desses, me olhou e acabou sorrindo.
          Confesso que não faço parte da nobreza inglesa, mas procuro ser educada sempre, seja com desconhecidos ou mesmo com aquelas pessoas com as quais não simpatizamos. Se somos forçados a conviver, então, que seja de forma civilizada.
          Estamos cansados, frustrados, estressados: corremos tanto, nos aborrecemos em casa, discutimos no trabalho, o trânsito é caótico, o chefe não nos motiva, mas nada disso deveria fazer com que nos tornemos mal-educados e grosseiros. No dicionário, civilidade é observação das conveniências, das boas maneiras em sociedade, cortesia, urbanidade, polidez. Por que ao longo desse século esquecemos seu significado e simplesmente excluímos a civilidade do nosso dia a dia?
          O que mais me causa estranhez é que não importa a idade, o sexo, a religião que professam, o grau de instrução, apenas a sociedade aboliu os bons modos de outrora. Costumo dizer que não preciso ser simpática, mas que educação é primordial. Podem dizer "que mulherzinha metida!", isso não me ofende em nada, porque jamais poderão afirmar que não sou educada.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

DESABAFO DE UMA JECA

     
      Hoje acordei com minha irmã me chamando para assistir algo parecido com o antigo “Som Brasil”, mas apresentado por Geraldo Boldrin. Fui convocada a relembrar as manhãs de domingo de tempos passados, quando meu avô nos mostrava o som do nosso país: Noel Rosa, Lamartine Babo, Dolores Duran, Almir Sater etc.
      Relembrando nosso avô, ela me perguntou “O que vovô diria se visse Itaocara hoje?”. Não precisei pensar muito, tinha a resposta na ponta da língua, disse-lhe “Ele nos perguntaria: Para onde foi a beleza?”.
      Começamos a indagar porque a raiva enlouquecida contra o verde. A grama das praças foi gradativamente ao longo dos anos trocada pelo concreto. A maioria das árvores foi arrancada, já não acordamos ao som dos passarinhos.
      Os monumentos desmoronam, lembramos o “Moisés”, interditado, a ponto de cair, como outrora lá brincávamos, foi lá que descobri que tenho medo de altura aos oito anos de idade. A piscina pública da primeira metade do século XX, afogou-se em toneladas de terra e concreto, dando lugar a um palco com cores vibrantes. As cores da cidade são fortes, quase uma violência contra o bom gosto. Ao invés de darem uma sensação de relaxamento como antes, agora expressam inquietude.
      Já perdemos tanto, nas fotos do casamento de nossos pais, havia um lindo coreto, que fora substituído e sequer chegamos a conhecê-lo. Não tenho filhos, mas se os tivesse, não poderia levá-los para conhecer a “Diana Caçadora”, o aquário com o peixe elétrico, o palco subterrâneo que pulávamos de prismas a cilindros coloridos até chegar à parte mais baixa, a estátua do “Frei Tomás” a quem pedíamos bênção, o museu que ficava onde hoje é a Secretaria de Educação, sobrou apenas a fonte do lado de fora e, destruíram a fonte do menininho fazendo xixi em frente ao hospital, foi assim que vi o primeiro homem nu.
      Por que tanta destruição? Onde anda nossa memória? Maria Rita será esquecida, e depois também o Toninho quando partir? Tudo isso em nome de um falso progresso, de uma arte nada moderna, de uma forma tão equivocada de ver a vida. Será que somente a gente tem saudade. Meu avô se foi há muito tempo, meu pai também, um dia serei eu a partir, e quem será Itaocara? Uma cidade sem memória, sem história, perdida para sempre.
      Uma nova cidade de concreto e pedra, moderna, cinza de progresso, quente, não pela emoção, mas pelas altas temperaturas, afinal são poucas árvores e nenhuma grama. E tudo novo, os monumentos, os prédios, as ruas, esquinas e calçadas. Talvez até o rio esteja em outro lugar, transportado por alguma nova tecnologia.
      Desaparecerá por completo o chão que um dia pisei e a beleza que retive. Apenas restarão algumas fotos e imagens na lembrança daqueles que apreciam o que é realmente imperceptível ao olhar da maioria apressada na busca pelo poder.



sábado, 2 de outubro de 2010

HOJE

         
          Não sei por que hoje tenho vontade de chorar. Talvez sejam as doze horas seguidas que trabalhei na última quinta, sabendo que foram todas em vão. Não escolhi minha profissão, não tive esse direito, mas me apaixonei pela arte de ensinar. Lido com sonhos, mas comecei a ficar descrente que meus alunos possam realizá-los, talvez por isso esteja tão triste.
          Hoje senti falta do meu pai, que não era nada responsável, nem mesmo convencional, mas era tão carinhoso, me acordava com o pão quentinho trazido da padaria, que encostava no meu rosto e, quando mesmo assim não acordava, batia no meu bumbum dizendo "Acorda menina, não deixe sua vida passar enquanto você dorme!'. Talvez por isso tenho os olhos rasos d'água, apenas saudade.
          Amanhã o meu país estará realizando as eleições, um dia imaginei poder mudar as coisas, estive no Diretório Acadêmico na minha época de faculdade, fui o cabeça da primeira vez que um curso de interiorização foi até a reitoria da UFF, reivindicar, com rosas nas mãos, cantando Geraldo Vandré. Quanta energia desperdiçada, meu país não mudou e amanhã não tenho em quem votar. Talvez esteja triste pelo meu país, porque essa semana depois de tantos debates, senti vontade de simplesmente abandoná-lo.
          Também refleti sobre meus amigos, acho que tenho pouca afinidade com a maioria deles. Nem sei se são meus amigos mesmo. Relembrei as tantas vezes que me senti lesada nessas relações chamadas de "amizade", talvez seja esse o motivo da minha tristeza.
          Tem também os amores que não deram certo. Algumas tentativas, tantos fracassos. Às vezes, como hoje, me pego pensando em como seria se tivesse dado certo. Sei que alguns me amaram e também amei algumas vezes, apenas não aconteceu. Isso me aborrece, porque acredito que a chance de ter sido incrível era bem grande. Estranho como ter tanto para viver e não encontrar o momento perfeito, talvez isso também me faça triste hoje.
          Não sei de onde vem essa sensação ruim. Talvez seja dessa vida tão cheia de incertezas. Acho que sou diferente, brinco que "tenho alma de artista", pode ser esse o motivo dessa tristeza que invade minha alma, fragela meu corpo e deságua em meus pequenos olhos negros, que choram um choro sufocado.

    

PARTIDA


Sinto um aperto no meu estômago
Acelera meu coração descompassado
É quase medo
Ou tristeza?
Mas como é pesado
Carregar tanta dor
A dor de não ser amado.

Vibra minha alma sentindo-se eterna
Acredita que a morte para sempre não separa
Tanto amor guardado,
Quanto desejo inacabado,
O que fazer senão esperar
O fim de tudo?

Alma, emoção, tempo e canção
Nada completa-se nessa vida
Vida de espera vazia
Que comprime o peito
Esmaga a alma
Sufoca a respiração
Aguarda nada serena
A morte que chega sem compreensão.

Apenas vivi e nada amarga parti
Desperdiçaram o momento
Não sobrou nem mesmo fragmentos,
Apenas uma sombria desilusão
Na partida nem lamento,
Apenas escuridão
E nenhum acalento.

Parti, como vivi,
Com o coração embriagado
Os olhos semi-cerrados
E com a esperança que não abandona os fracos,
Ilusão dos que nunca param de sonhar...