terça-feira, 31 de agosto de 2010

UM AMOR EM TRÊS CAPÍTULOS - Vida 1

VIDA 1:



O ano de 1896 iniciara-se, o mundo ainda não sabia que migrava para a agitação do século XX. Ela, Maria Cândida, uma mulher a frente de seu tempo, bonita, elegante, filha bastarda de um aristocrata, adotada desde cedo pela madrasta, tirada de sua mãe, a quem nunca conheceu de fato. Rebelara-se e impunha sua forma expressiva de agir, que por vezes constrangia a família, discussões febris com os pais e irmãos eram uma constância em seu cotidiano. Ele, Afonso, um rapaz de origem humilde, estudou com auxílio de bolsas e ainda buscava reconhecimento na profissão que escolhera, médico, quando a Medicina dava seus primeiros passos.

Conheceram-se num baile elegante, na virada do ano, ela chamava a atenção em seu vestido vermelho. Era tão diferente das moças habituais, bebia champagne rodeada de rapazes que lhe satisfaziam as vontades. Ele aproximou-se e seus olhos jamais esqueceram o brilho do olhar que o enfeitiçou naquele momento. Ela rindo notou sua presença, por um pequenino instante seu olhar foi dele apenas. Depois voltou às risadas e a bebida, mas ele tomou coragem e a convidou para dançar. Não esperava, mas ela aceitou seu convite. Seus corpos flutuavam ao som da música e trocaram informações úteis, que o permitiram reencontrá-la.

Dias se passaram até que ele a convidasse para um café na Confeitaria Colombo, típico local onde a elite se encontrava, para o aconchego do cair da tarde. Conversaram animadamente, ela era tão crítica, falava sobre si e tinha opinião formada sobre tudo. Novos encontros aconteceram e um dia ela perguntou quando ele a levaria à sua casa, para que pudesse olhar os livros dos quais sempre comentavam.

O que aconteceu naquele dia, foi para ele o momento perfeito. O ambiente era sóbrio, o quarto era conjugado com a sala, uma cama, uma escrivaninha repleta de livros, uma cadeira ao fundo e as cortinas encobriam os últimos raios de Sol. Ela aproximou-se e um beijo sem pudor iniciou a cena de roupas retiradas às pressas, do toque suave dos seios no peito nu, as mãos percorrendo cada parte dos corpos, e a entrega da virgindade deixada nas marcas vermelhas do lençol.

Muitos encontros aconteceram até o momento em que ela no mesmo quarto, na mesma cama, depois de todo prazer que desfrutaram comunicou-lhe o noivado com um rapaz que conhecera antes dele e que estava em outro país terminando os estudos. O choque foi fatal, uma discussão intensa sobre motivos e apelações insanas, encerraram o caso para ela, mas que para ele era bem mais que isso, era amor.

O casamento aconteceu no ano de 1896, no mês de maio e reuniu a mais alta sociedade local. O primeiro dos desastres amorosos, o caso descoberto por ela, já acontecia há dois anos, ele mantinha uma amante desde antes do enlace e assim o casamento acabou.

Casou-se mais duas vezes, e sempre o mesmo final trágico. O último relacionamento findou quando ela tinha 35 anos, o que para a época já era idade de senhora, e a moça, a amante, tinha apenas 18 anos e estava grávida, foi uma tragédia, para uma mulher que tantas vezes tentara engravidar sem sucesso. O fracasso havia se estampado em sua face, deprimida, seis meses depois perdera o pai.

Ele levava uma vida plena, médico sanitarista, no início do século, tantas obrigações e as mazelas humanas saltitavam a sua volta. Clinicava em tantos lugares, e seu trabalho era sua vida. O Dr. Afonso era excepcional e todos sempre se perguntavam o porquê dele nunca ter se casado. Ele sabiamente respondia que o trabalho o absorvera tanto que não havia sobrado tempo.

Ficou perplexo, quando soube que Maria Cândida se despedira da vida, no dia em que completou 36 anos, com um veneno tomado numa linda taça. Mesmo assim aquele amor nunca se dissipou e ele quando faleceu aos 65 anos, ainda guardava na escrivaninha antiga, uma foto envelhecida dos dois amantes, numa tarde de fim de verão, foi sua última visão antes de cair no sono profundo da morte.

sábado, 28 de agosto de 2010

BELEZA


Olho meu corpo no espelho:
O tom alvo da minha pele
O castanho dos meus olhos
Combinando com meus cabelos
As curvas equilibradas
Num conjunto de delicadeza. 
O que é a beleza?
A elegância da forma
Ou a expressão da alma?
O belo contorno do que dizemos
Ou o perfume que desprendemos?
Talvez a beleza
Seja apenas quimera,
Porque perfeição completa
É busca vazia,
Sou imperfeita
E feita de mistério
Talvez desvendar-me
Seja o que há de mais belo...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

RAPIDINHAS


- Cumadre, ocê tem visto os pulíticos por aqui di novo?
- É mermo, que eles tão querendo?
- Nosso voto, cumadre!
- Ah, aquele moço teve aqui da última veis, prometeu borsa-família, anotou tudim, mas nois recebemos nadinha!
- Sabe cumadre, esse é aquele que pegava o dinheiro da borsa pra ele!
- Mas como é que é? Se ele robava, como pode tá aqui pidindo voto de novo?
- É que pulítico tem imunidade!
- Que isso cumadre?
- É fácil, eu explico. Nois se roubar, vai tudo pra cadeia, né?
- É sim. Meu cunhado roubou uma galinha e tá preso mais de ano. Num tem adevogado!
- Mas os pulítico nem precisa de devogado! Eles faiz quarquer coisa e dá tudim certo!
- Eita, comadre! Vou votar neles mais não!
- Afinar dinheiro só no borso deles e no nosso só vento! Eu também vou não!



- Cumpadre, viu a nova candidata na televisão?
- Vi não! Só a merma!
- Ocê é troxa mermo! Essa é nova: roupa branca, unha pintada de bege, baton crarinho, uma belezura! Parece até um anjo, cumpadre!
- Minino, ocê que é burro! Num tá vendo que só mudaram as cores da muier!


- Que bagunça é essa na cidade, gente? Vim de longe e a Perfeitura tá fechada!
- É as eleição! Tá todo mundo em volta de um tubarão que veio de licóptero!
- Uai sô! Pra mim tubarão ficava é nu mar! kkk.....
- Cê num presta mermo, né?
- Nóis tem que fazer piada, porque se fosse pra chorar, o Brasir  tava todo dibaixo d'àgua!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

DOENÇA



Deitada na minha cama por dias, sentindo a fragilidade do meu corpo, tentando agarrar-me a certeza de que vou melhorar e que toda essa dor vai passar. Agora já não me importo com os afazeres do trabalho, e são tantos, não me incomodo com a ausência dos que deveriam me visitar, e nem sinto falta de sexo, no estado em que estou, não seria possível.

O que me incomoda realmente é estar dependente dos outros: preciso que alguém dirija meu carro até a cidade vizinha, pois o médico atende há poucos quilômetros daqui, mas meu corpo dói tanto que não me atrevo a assumir o volante; preciso que alguém me sirva água e comida, o que detesto, pois não gosto de ser um fardo para ninguém e, fora a revolta de não poder atender ao telefone, já que não estou falando.

Brava com meu estado de dependência, fazendo alusões tais como: "E se eu realmente estivesse morrendo?". Confesso, sou muito independente na vida prática, mas tão carente ao mesmo tempo. Como é possível sentir falta daquilo de que nunca tive? Estranhamente sinto falta de alguém que cuide de mim, mas sempre fui eu quem cuidei dos outros.

Acho que essa retirada estratégica imposta pelo meu corpo está me mostrando um pouco mais de mim. Meu pai dizia que eu era frágil, mas nunca acreditei muito nisso. Sempre fui obrigada a tomar conta de mim mesma e ainda me preocupar com minha irmã caçula. E quando ele morreu então, ficou tudo ainda mais pesado. Fingi ter a firmeza que todos aguardavam e construí um forte onde eu dava as coordenadas. Acho que me perdi nesse perfil.

As pessoas desde muito cedo achavam que eu era muito madura para minha idade: "Tão responsável, essa menina!". Acabei assumindo isso de verdade e não tive tempo de crescer de fato, tamanha minha responsabilidade comigo e com tudo mais. Como nenhum adulto notou o quanto isso era um fardo que eu carregava resignada? Só agora entendo a  tamanha  raiva que contive.

Que coisa! Ninguém percebeu em toda minha vida o quanto eu precisava de muito mais que elogios tolos, eu necessitava mesmo é de colo. Não sou nada perfeita e nem tenho essa pretensão; e forte, pelo amor de Deus, passo longe, sou apenas corajosa e nada mais.

Ficar sem voz me fez falar muito mais que deveria, mas com certeza encarei minhas verdades.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

BUSCA


Hoje me sinto meio triste
Talvez seja a garganta que dói
Ou o instante que não retive.
Descompassos na minha melodia
Que afligem minha alma nada vazia.
O que busco nessa vida:
Um único instante de fantasia?
A poesia louca dos amantes?
Não sei!
Apenas busco e até encontrar
Minha vida será o verbo buscar...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

INCERTO DESEJO

    

     Não nos deixe escapar o momento, aquela noite de fim de inverno. As roupas ainda pesadas, a nossa conversa apressada pelo garçon que queria encerrar sua jornada. Eu fiz menção de pedir a conta, quando lembrei que reza a boa educação que isso fique por conta do cavalheiro. Então lhe sorri e você assumiu seu posto. Subimos pelo elevador e você me tomou em seus braços e aqueles segundos passaram mais rápidos que o normal.
     No hall de entrada, você notou que a estátua no meu aparador era exatamente igual a que você tinha em seu apartamento, rimos quando constatamos nosso gosto similar. O assunto apenas aumentou a proximidade entre nossos corpos, quando você me abraçou e nossos lábios se tocaram num beijo doce,  não gentil, mas ardente.
     Suas mãos ágeis percorriam meu corpo com destreza e habilidade e senti o quão quente nossos corpos estavam. Em poucos instantes não havia certo ou errado, éramos apenas nós dois angustiados pelos barulhos que nos faziam voltar à consciência de que não estávamos sozinhos e que poderíamos ser surpreendidos a qualquer momento. Tudo isso só aumentava  o desejo que contínhamos. Eu também o tocava com pouco pudor e meu corpo ansiava pelo seu.
     Precisávamos nos conter e fui à cozinha pegar um vinho. Dessa vez, não ousei abri-lo, foi você que o fez e apreciamos o néctar doce que acalmou nossas almas. Juntos, aninhados um no outro, já era alta madrugada e, nossa conversa fluía sem pressa.
     Adorei alisar os seus cabelos macios, quando você reclamou do corte exagerado realizado.  Dessa vez foi eu que procurei sua boca e mais uma vez encantei-me quando você disse como meu beijo era gostoso e despudorado.
     Você me desafiou dizendo que sem o salto era mais baixa que esperava e eu repliquei lembrando que  você era bastante alto como um jogador de basquete, mas lembrei-me que o tornozelo quebrado e os dedos tortos de suas mãos eram herança dos seus tempos de goleiro.
     Nossa noite findou quando ao despedir-se ousou perguntar qual botão deveria apertar no elevador, eu muito complacente decidi acompanhá-lo para que não se perdesse. Nossos abraços e beijos incendiaraam o elevador e foi com grande surpresa que ao parar, não estávamos no saguão, mas sim na garagem do prédio.
    Rimos mais um pouco  e aí sim te levei até a saída. Em nossos corpos ficou o gosto do que ainda não provamos e em nossa alma a incerteza de um próximo encontro.
    
 

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

DESABAFO ELEITORAL



     As eleições estão chegando e com elas a mesma conversa desvairada dos anos anteriores. O pior é que a visão da população está cada vez mais restrita. Um certo desânimo tomou conta até mesmo dos pensadores, que outrora se indignavam com os descabidos atos dos cabos eleitorais. Hoje não se reclama de mais nada.
     Já foi a época que os lados opostos discutiam e sempre tinham as denúncias de ambos os lados, que davam muito o que falar no trabalho. Ah, os debates em rede nacional, em várias emissoras, e era uma guerra de projetos e planos, que quase sempre caíam num bate-boca acalorado, onde ambas as partes se ofendiam com golpes quase que indefensáveis.
     Agora o que restou? Um nada absoluto. Não se conversa sobre eleição. É como se tudo já estivesse previamente decidido, não deixando espaço para qualquer apreciação. Isso além de perigoso, do ponto de vista democrático, também é muito sem graça. Afinal, não sobra material para as piadas. Sinceramente não sei o que será dos nossos comediantes, o material é quase inexistente. Sobra apenas, sexo, o que para falar a verdade, já está também banalizado.
     Aqui na minha cidadela o que se nota são apenas os carros com seus decalques imensos e é claro, o mesmo candidato com seu rosto risonho em todos eles, como já dissera anteriormente, nenhuma oposição, tudo igual. Já dizia o mestre "A unanimidade é burra!".
     Anos atrás me perguntava num texto "Que país é esse?", inspirada pela música do Renato Russo. Hoje tenho a resposta na ponta da língua: Brasil, o país que não pensa! Pensar dá muito trabalho. Reitero, então, deixemos tudo como está e continuemos com nossa vidinha cotidiana.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PALAVRÕES

                                                                
Ultimamente tenho recorrido aos palavrões, para expressar o meu descontentamento principalmente diante da atitude de certas pessoas. Ando, confesso, meio sem paciência para gente que recorre a inveja:"ora se não sou eu o dono dessa excelente idéia, vou boicotá-la".

Ou então, aquele outro tipo, o reclamão: "oh, mundo cruel, todos sempre contra mim!", que coisa isso, será que ainda não percebeu que está na hora de mudar o que anda repetindo?

Ainda tem aquele tipo que por não ter argumentos plausíveis, não discute, mas sim grita: "graaaaaaaaa, croooooo, ugruuuuuuuuuu!"; às vezes penso que esses são os piores.

Ah, também tem o que recorre à fofoca, esse me irrita bastante: "você sabia que fulano fez tal coisa assim com beltrano de tal?". Que situação essa! A vida desse sujeito é tão sem graça, que o coitado precisa tomar ciência da vida alheia, para ter do que falar. Muito triste!

O que faço nessas situações? Xingo.

O que realmente vem me incomodando é que palavrões não combinam comigo, então as pessoas mais próximas me repreendem: "Rose, essas palavras ficam tão estranhas ditas por você!"

Foi aí que uma ideia foi-me dada: "Quando você estiver chateada, use como palavrões palavras mais leves!" Perguntei: "O que sugere?"

Adorei a alternativa dada para os palavrões. Daqui para frente, quando me verem falando em voz firme: Channel, Dolce & Gabbana, Fendi, Vogue, Givenchy, Dior etc, saberão, amigos, estou xingando!

Sou muito delicada para palavras tais como: cara..., buce..., pu...que..., entre outras. Pelo menos, quando xingar, não descerei do salto.

Quem me conhece sabe que não sou fútil, mas não nego, elegante com certeza!

domingo, 8 de agosto de 2010

MOMENTO PERFEITO


  Eu quero meu momento perfeito
Quando a alma fica plena
E o corpo extasiado
Eu quero a simplicidade do beijo
O toque das mãos
A ousadia na pele
Eu quero meu momento perfeito
Sentir que estou completa
Que não sobra nem pensamento
Que tudo não mais importa
Nem mesmo o tempo
Quero meu momento mais que perfeito
Alma no meu peito
Corpo no meu desejo...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

PROCURA



Essa noite tive vontade de amar
Perdi o sono a pensar
Meu corpo em volúpia
Minha alma só ternura
Não sou triste
Mas confesso
Um temor para mim existe
Será que morrerei nessa vida
Sem o amor encontrar?
Por que de mim
Que tanto o procuro
Ele está sempre obscuro?
Oh, procura insana!
Na vida tudo é busca
Mas ela insensível, nada assegura...