segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

FEIRA DAS VAIDADES


          Na cidadela um Sol torturante oprime os olhos que ardem com a insensatez amplamente praticada. Personagens ricos em hostilidade e hipocrisia desfilam seu amargor pelos quatros cantos do ambiente, insuflando a vulgaridade privilegiada dos falsos moralismos, verdades guardadas que escapam das correntes centenárias e mostram-se para deleite dos poucos opositores da farsa.

          Um covil  de lobos a espreita, esperando um deslize para o ataque brutal, punindo todos aqueles que ousam expor ideias contrárias as normas milenares, impostas pelos  sobrenomes outrora ilustres. A decadência dos cofres reduzidos a pequenas ninharias, consequência do neoliberalismo do século XX, ocasiona um certo desconforto aos eleitos, já que agora são forçados a dividir os espaços com o público sem nome, mas que são os detentores das moedas de ouro, muitas vezes utilizadas para comprar a simpatia dos antigos donos da cidade. 

          Nas festas de verão, o desfile de trajes sofisticados contrastam com o escasso traquejo social, já que o cuidado com a aparência não oculta a pouca cultura das imponentes figuras da elite decadente. Na madrugada tardia, o aroma da erva proibida paira no ar e a brisa morna deixa escapar os mais obscuros desejos. Quando os primeiros raios de Sol aparecem, as faces despedaçadas recolhem-se satisfeitas.

          Quando chega o falso inverno, com muito Sol e temperaturas acima da média, incrível como até as estações escondem sua real identidade, os habitantes reclamam dos poucos dias de frio, onde uma chuva miúda tenta lavar toda a poeira de mentiras, mas uma real impossibilidade não permite. O frio e a noite escura combinam complacentes, esconder o vazio imenso que inunda a cidade.
          A mesquinhez e a  mentira, fiéis aliadas, alimentam a feira das vaidades, onde desfilam os  personagens suas  máscaras polidas pelo tempo, que nesse lugar esquecido teima em não passar, parceiro gentil da  estática, mantendo tudo como deveria estar, mudam-se os rostos, mas a essência permanece a mesma.
      
        

Um comentário:

  1. Realmente numa feira de vaidades a essência permanecerá a mesma. Amei seu texto. Sempre gosto do que escreve, mas este é fora do comum daquilo que realmente costuma fazer: metaforizar em prosa para dar vida um outro corpus. Você memoravelmente nutriu seu texto com um vocabulário e com um forte teor de linguagem figurada que me deixou inebriado. Parabéns pelo excelente foco analítico e repleto de boas "vaidades".

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