domingo, 16 de maio de 2010

A CAMISA QUE LHE DEI


Hoje peguei a camisa que lhe dei num antigo aniversário. Bege, cheia de revólveres e estrelas de xerife. Já bastante usada, por isso ainda guarda seu perfume. Ainda consigo vê-lo dentro da camisa. Seu rosto sempre tão terno e aquele sorriso constante. Ainda vejo seus olhos brilharem, cheios de amor. Guardo com carinho sua camisa.

Hoje não posso abraçar seu corpo, pois este já não possui vida e, a saudade que ficou é atenuada ao afagar sua camisa, aquela que lhe dei. No colarinho desbotado pelo trabalho árduo, que fez sua camisa tantas vezes lavada, sinto ainda mais forte a sua presença, suas atitudes honestas e invejáveis. Homem de grandes virtudes! Todos proclamam.

Na velhice de sua camisa vejo o envelhecer da vida. Hoje me sinto mais antiga, talvez seja a maturidade chegando. Vejo todos sentirem sua falta, querendo manter as coisas do jeito que você gostava, mas ninguém consegue. Suas coisas, do seu jeito, só você sabia fazer.

Sinto a sua falta e, escondo o meu desespero dando um nó em minha própria garganta...

Texto dedicado ao meu avô, Didier Marra, o Seu Zizito. O homem mais nobre que conheci. 1992

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