Tenho sonhado com meus entes queridos que se foram nas últimas noites. Sonhos agradáveis, lembranças doces. Fico pensando quando será a minha partida. Não com pensamentos fúnebres ou mórbidos, apenas pensando.
No trabalho, até aqueles que me detestam, provavelmente irão dizer: "Apesar dos pesares, ela era competente!". Os meus amigos virtuais sentirão falta dos emails, afinal encho suas caixas diariamente. Os meus antigos amores, dirão: "Nossa, faleceu? Uma mulher com opiniões demais na minha opinião, mas era interessante". Meus amigos verdadeiros, irão pensar na hora: "Como está a Tatá? Tenho que encontrá-la e ficar sempre com ela nesse momento!" Ops, Tatá é a minha irmã e, ela não fica bem sem mim! Minha mãe vai chorar, afinal ela me ama, do seu jeitinho torto, mas para mim é o bastante.
Bom, conforme combinei com Tatá, não haverá velório, nem enterro, apenas serei sepultada sem alarde. Dias mais tarde, assim que for possível, minha irmã e meus amigos leais farão o seguinte: na mesa bem colocada, um bom vinho e queijos, a música será bossa e rock nacional dos anos 80 e 90, a conversa vai rolar solta sobre como eu era chata em algumas ocasiões, engraçada e bem humorada em outras, como eu falava sem parar e muitas vezes monopolizava o assunto, a forma como eu era sensível e via o mundo sempre colorido, apesar daquela nuvenzinha cinza.
Vão se lembrar dos nossos papos, viagens e como eu gostava de ser uma turista de carteirinha, mas também lembrarão das brigas, afinal não vim no mundo a passeio, e rirão de todas as minhas confusões do passado.
A certa altura o vinho vai tomar conta e, a pauta será: "Uma coisa não podemos negar, se a Rose exagerava no vinho, aí o papo vertia sacanagem, como era safada!" Muitos risos, quando de repente se darão conta que eu não estou ali, lágrimas vão rolar e muitas, afinal os conheço bem, assim a celebração estará completa, e minha vida não terá sido em vão. Se tive amigos, vivi.