segunda-feira, 11 de outubro de 2010

CIVILIDADE


          Estranho falar sobre civilidade em pleno século XXI, mas percebo que cada vez menos se dá valor a isso atualmente. Estava conversando sobre essa questão, e percebi que algumas pessoas também se aborrecem com a falta de educação encontrada nas relações cotidianas.
          O despertador do celular toca, levantamos de nossas camas já atribulados com a quantidade de coisas que temos que fazer durante o dia, quando dá tempo após nos arrumarmos, tomamos um café rápido, descemos pelo elevador e assumimos o volante do carro sempre apressados.  Ao sair da garagem, nos deparamos com os carros e pedestres que não dão uma folga sequer para que possamos adentrar na pista e seguir para o trabalho. Estressante realmente, então, para descontrair a impaciência com o próximo, ligo o som do carro e começo a cantar como se estivesse indo dançar a noite inteira. Alguns podem até me chamar de "a louca desvairada que liga o som e sai cantando em seu carro", mas o que ocorre é que apesar de toda correria, chego no trabalho sorrindo e dando "Bom dia!".
          A resposta para o cumprimento é rara, na maioria das vezes, o que recebo é a indiferença ou aquele olhar raivoso de quem já acordou de mal com a vida. Ora, a vida anda mesmo complicada para todo mundo, mas não responder um "Bom dia!" pela manhã é para mim grosseria pura. Minha irmã reclamando da mesma coisa me confidenciou: "Às vezes tenho vontade de desejar um péssimo dia, só para ver se não teria resposta". Respondi que a resposta seria imediata, com certeza, palavras rudes seriam proferidas e alguns partiriam até para agressão física, uma válvula de escape para nossos fracassos diários. Triste realidade, onde apenas o que é negativo chama a atenção das pessoas.
          Também tem a forma como tratamos os garçons, em geral nem os notamos, e quando algo não sai a nosso gosto, chamamos o gerente, sem pensar que podemos estar colocando em risco o emprego daquela pessoa. Eu fico surpresa com a reação dos garçons quando os chamo de forma delicada e, ao tornar-me frequentadora assídua do estabelecimento, os outros fregueses se espantam quando me dirijo a eles, dessa forma: "querido, será que é possível você me trazer um pouco mais de molho?". Não entendo por que estranham tanto, apenas estou sendo gentil com pessoas com as quais convivo regularmente.
          Nas calçadas, com o fluxo grande, é quase impossível não esbarrarmos uns nos outros, o que ocorre, nem um pedido de desculpas, o mínimo que fazemos é uma cara bem feia, quando não esbravejamos, grosserias trocadas e pronto, estamos satisfeitos. Dia desses, um homem ficou assustado quando pedi "Desculpas" por conta de um esbarrão desses, me olhou e acabou sorrindo.
          Confesso que não faço parte da nobreza inglesa, mas procuro ser educada sempre, seja com desconhecidos ou mesmo com aquelas pessoas com as quais não simpatizamos. Se somos forçados a conviver, então, que seja de forma civilizada.
          Estamos cansados, frustrados, estressados: corremos tanto, nos aborrecemos em casa, discutimos no trabalho, o trânsito é caótico, o chefe não nos motiva, mas nada disso deveria fazer com que nos tornemos mal-educados e grosseiros. No dicionário, civilidade é observação das conveniências, das boas maneiras em sociedade, cortesia, urbanidade, polidez. Por que ao longo desse século esquecemos seu significado e simplesmente excluímos a civilidade do nosso dia a dia?
          O que mais me causa estranhez é que não importa a idade, o sexo, a religião que professam, o grau de instrução, apenas a sociedade aboliu os bons modos de outrora. Costumo dizer que não preciso ser simpática, mas que educação é primordial. Podem dizer "que mulherzinha metida!", isso não me ofende em nada, porque jamais poderão afirmar que não sou educada.

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