Contos, crônicas, relatos e opiniões...
Aqui é o espaço onde mostro minha essência!
A escritora se confunde com a mulher, externando todas as inquietações da alma de ambas...
Meu terapeuta me disse que quando apareci em seu consultório há três anos atrás, nunca imaginou que eu pudesse evoluir tão rápido. Lembro-me daquele dia: uns 12 quilos a menos (hoje peso 60 kg), roupa preta, olhar sem vida, meu único sentimento era o medo e mais nada.
Fui nesse período me abrindo pro mundo, deixando a pessoa encarcerada dentro de mim mesma se libertar. Na verdade, eu mesma era prisioneira de mim. Desde menina, hoje olhando as fotos, se via uma tristeza oculta, inconscientemente meus pais me faziam acreditar que era responsável por tudo: "Ela é uma mocinha aos seis anos de idade!, Nossa filha é uma aluna exemplar!, Tome conta da sua irmã caçula!". Acreditei que a culpa por algo não ter dado certo era sempre minha.
Cheguei ao consultório sentindo o peso do mundo sobre mim. A culpa: pela morte do meu pai (ele enfartou!), pela difícil relação com a minha mãe (ela tem distemia!), pela profissão que não me rendia o que eu "achava que por tamanha inteligência" merecia (sou inteligente, mas não um gênio!), pelos relacionamentos que não davam certo (eu exigia demais de mim!), entre outras coisas.
Tinha convicção que não tinha dado certo e que a única responsável por isso era eu! E de certa forma tinha razão, porque acreditei que seria eu a cuidadora da família após a morte do papai, que era mesmo um fracasso de profissional, apesar de como professora ter experimentado todos os níveis de ensino, até em faculdade cheguei a dar aulas, que eu não era hábil para lidar com namoro. Desse jeito, adoeci.
Hoje, depois desses anos de terapia, descobri que meu pai faleceu em função do desgaste em seu organismo, que mamãe é minha mãe, mas isso não quer dizer que tenhamos afinidade, portanto evito embates e não me responsabilizo mais por suas ações, ainda tenho sobrecarga quanto às soluções dos problemas familiares, mas venho tentando dividi-los paulatinamente com minha irmã, no trabalho sou uma boa profissional por isso exijo respeito, estou namorando, ele é um cara muito legal, pela primeira vez estou amando, mas não me desespero se disse ou fiz algo que possivelmente ele não gostou, afinal ele também às vezes diz ou faz coisas que não me agradam, sou segura o suficiente para saber que esses entraves fazem parte da relação.
Estou em liberdade condicional, após anos na prisão. Fui prisioneira das ideias imutáveis, das certezas eternas, da culpa, do medo, da cobrança exagerada, da perfeição, da mordaça que calava minha voz e me impedia até de escrever meus versos.
Uma coisa descobri: eu mesma tinha a chave da minha cela. Tive coragem de abrir a fechadura e me conhecer de fato. Confesso que gosto mais de mim agora.