Lembro-me das histórias contadas para mim quando era menina: Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel, entre outras. A garota era sempre salva por um príncipe, que uma bruxa transformara em sapo e que a princesa havia beijado para torná-lo príncipe novamente. Acho que era mais ou menos assim.
Primeiramente faz-se necessário esclarecer que os homens nascem girinos e nós babamos por eles desde as primeiras horas, quer dizer quando são apenas inofensivos bebezinhos. Por culpa de suas mães crescem protegidos de tudo e de todos, como se fossem verdadeiros bibelôs. Com o passar dos anos, o esteriótipo de "Príncipe Encantado" está formado e os pobres coitados acreditam que são melhores, mais inteligentes e superiores, o que os coloca numa posição de destaque no mundo de conto de fadas para o qual foram criados.
Logo estão tão confiantes em si mesmos que começam a enganar as gatas burralheiras ou até mesmo as princesas distraídas que foram estimuladas a crer que a felicidade só existe para elas ao encontrar o seu príncipe encantado. Essas ideias estão presentes em livros, filmes, séries e até em animações. Voltando a questão, a verdade nua e crua é que em pleno século XXI, os príncipes na verdade nunca deixam de ser sapos e, muitas mulheres acreditam ainda poder fazê-lo, com o beijo encantado dado pela princesa da história.
Dulce Maria, nascida numa família estruturada, cresceu normalmente, inteligente e bonita, fez faculdade, tem um emprego razoável, uma personalidade forte, ética nas suas atitudes, acredita num amor real, baseado na admiração e respeito entre as partes, ou seja, o esteriótipo da mulher moderna-sensível.
Encontrou um sapo com nível universitário, bonito, usando máscara de bom moço e, apesar dos indícios de sua pouca inteligência, Dulce Maria resolveu dar uma chance ao mesmo, pretendendo transformá-lo em príncipe.
Logo no início ouviu o rapaz queixar-se de todo o tipo de maldade e injustiça feitas contra ele, falando o quanto havia sofrido, ela penalizada mostrou-se a seu lado. Depois foram as histórias do quanto ele destemidamente se colocou em situações difíceis para ajudar outras pessoas, ela mais uma vez, achou que o sapo era realmente uma boa pessoa, um herói apenas sem a capa e os equipamentos complementares.
Nas conversas o assunto era sempre sobre futebol, o quanto ele precisava dar uma guinada no emprego, os problemas de sua família, o quanto a cidade onde nascera fora cruel com ele, ou seja, as questões orbitavam sempre sobre o sapo. Ela tentava falar sobre outras coisas: viagens, cinema, política, carros, livros, filosofias pessoais, entre outros assuntos, mas a verdade era que o pobre sapo não podia deixar de ser o centro das atenções.
O que aconteceu foi que Dulce Maria estava ficando cansada com aquela conversa chata e repetitiva, mas acreditava que o sapo seria transformado em seu príncipe, há muito esperado. O que ela com toda a sua inteligência sabia, mas não queria aceitar, é que sapos não se transformam em outra coisa, muito menos nos príncipes montados em cavalos brancos, nobres e lindos.
Não demorou muito para o sapo mostrar a sua essência de sapo: um bicho feio, comedor de moscas, repugnante, sempre a espreita para cuspir seu veneno em alguma criatura desavisada. Dulce Maria sentiu-se humilhada em sua inteligência por permitir a aproximação de tal criatura, sensível, tentou culpar-se por ser tão crédula e ficou triste por algumas semanas.
Ela aprendeu uma lição importante: sapos não se transformam em príncipes. Não pensem que o final deste conto não é feliz. Dulce Maria agora está preparada para enfrentar os sapos, até encontrar aquele que sabendo-se sapo, seja um sapinho inteligente o suficiente para reconhecer a preciosa obra de arte que é Dulce Maria.