sábado, 28 de maio de 2011

ESTAR VIVA


Um sentimento doce embala minha alma
Meu corpo sedento dispara em correria
Como é possível estar tão viva
Se a noite fria parece mais longa que o dia?
Ontem passou de repente
O hoje descortina-se nada eloquente
O futuro ainda só um passo inseguro
O que fazer?
Aonde ir?
Descaso do tempo
Ilusão permanente
Estar viva
Em face a todo tormento
Crio gosto de arte
E desabafo meus piores amargores
Vivendo em busca de novos amores
O que importa
Viver ou morrer?
Nada interessa
Seja feita a vontade extrema
Como viver?
Eis aí o meu grande dilema...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

DESEJO

O frio doce encanta minha alma
Um desassossego investe contra mim
Forçando-me a bradar aos quatro ventos
Que o meu corpo em tormento
Sente falta do que me acalenta
Um rosto, uma voz, um sussurro
Mesmo que inseguro
Que faça parte da noite vazia
Possuindo-me sem pudor
Meu corpo cansado de tanto amor
Descansa no leito ainda quente
Despudorado e ainda dormente
Fazendo de mim uma pobre criatura
Que desperta sem veste
Despojada e nua
Minha alma então recua
Cai na mesma obsessão
De seguir na vida
Na mais profunda solidão...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

ESTRANHA SENSAÇÃO

          O inverno começa a mostrar-se esse ano, o dia está nublado, a temperatura apenas amena, uma neblina suave deu o ar de sua graça na tarde de ontem, a noite não permitiu cobertores, apenas uma colcha um pouco mais grossa, os habitantes da cidadela ensaiam suas primeiras roupas cobertas.
          Estranho como gosto de céu nublado, a neblina e o frio que impele a todos uma atitude mais sóbria. Gosto do tom de mistério que a estação traz, sempre ao cair da noite, portas e janelas fechadas, meias e cachecóis acompanhados do chá das vinte e três horas e de uns poucos biscoitinhos, que incentivam o sono.
          Nessa época sinto mais energia  e, quase sempre uma vontade imensa de ganhar a estrada para cada vez mais longe. Esta ânsia que tenho pelo desconhecido, como se em algum lugar, algo ou alguém estivesse a minha espera, coisa que jamais soube explicar.   
          Quero sentir o vento gélido aquecer minha alma, a neblina nua vestir  meu corpo, a noite escura iluminar meus passos,  para que eu possa desfrutar de cada instante da nova estação.

sábado, 7 de maio de 2011

MORRER

           Tenho sonhado com meus entes queridos que se foram nas últimas noites. Sonhos agradáveis, lembranças doces. Fico pensando  quando será a minha partida. Não com pensamentos fúnebres ou mórbidos, apenas pensando.
        No trabalho, até aqueles que me detestam, provavelmente irão dizer: "Apesar dos pesares, ela era competente!".  Os meus amigos virtuais sentirão falta dos emails, afinal encho suas caixas diariamente. Os meus antigos amores, dirão: "Nossa, faleceu? Uma mulher com opiniões demais na minha opinião, mas era interessante". Meus amigos verdadeiros, irão pensar na hora: "Como está a Tatá? Tenho que encontrá-la e ficar sempre com ela nesse momento!" Ops, Tatá é a minha irmã e, ela não fica bem sem mim! Minha mãe vai chorar, afinal ela me ama, do seu jeitinho torto, mas para mim é o bastante.
          Bom, conforme combinei com Tatá, não haverá velório, nem enterro, apenas serei sepultada sem alarde. Dias mais tarde, assim que for possível, minha irmã e meus amigos leais farão o seguinte: na mesa bem colocada, um bom vinho e queijos, a música será bossa e rock nacional dos anos 80 e 90, a conversa vai rolar solta sobre como eu era chata em algumas ocasiões, engraçada e bem humorada em outras, como eu falava sem parar e muitas vezes monopolizava o assunto, a forma como eu era sensível e via o mundo sempre colorido, apesar daquela nuvenzinha cinza.
          Vão se lembrar dos nossos papos, viagens e como eu gostava de ser uma turista de carteirinha, mas também lembrarão das brigas, afinal não vim no mundo a passeio, e rirão de todas as minhas confusões do passado.
          A certa altura o vinho vai tomar conta e, a pauta será: "Uma coisa não podemos negar, se a Rose exagerava no vinho, aí o papo vertia sacanagem, como era safada!" Muitos risos, quando de repente  se darão conta que eu não estou ali, lágrimas vão rolar e muitas, afinal os conheço bem, assim a celebração estará completa, e minha vida não terá sido em vão. Se tive amigos, vivi.